"Até bem pouco tempo atrás,
poderíamos mudar o mundo. Quem roubou nossa coragem?"
Primeiro de
junho de 1962. O jovem Epaminondas está eufórico; afinal, depois daquela
Conferência Extraordinária (que foi mesmo extraordinária - ou do balacobaco,
como gosta de falar), essa será a primeira ação de grande vulto da juventude
comunista brasileira. Sim, é óbvio que já houve outras ações anteriormente; mas
essa promete bem mais. É consideravelmente maior, sem contar que todos os seus
amigos estão bastante engajados na luta. Quem sabe o que os espera? O que o
futuro reserva a eles?
Reúne-se com
seus amigos. Conversam sobre um certo Guevara, um já bastante comentado Castro.
Por bem ou por mal, Kruschev também é um nome bastante lembrado na rodinha. Ah,
e é óbvio que não se pode esquecer daquele. É, ele mesmo; o grande responsável
por difundir o espectro vermelho que assombra o mundo. Quatro letrinhas que
traduzem uma ideia resumida em uma única palavra, mas que atrai a ele e a todos
os seus amigos vermelhos: Marx. Também há Engels, claro; mas não é tão comum
falar-se em engelismo, ao contrário do marxismo, palavrinha proibida
pós-Revolução Cubana.
Até o fim do
ano, envolve-se com amigos católicos, tendo, inclusive, sido membro da
Juventude Universitária Católica (abaixo a ditadura!); participa da greve geral
nacional (vamos parar o país!); e resiste por três meses na greve do um terço,
paralisando quase todas as quarenta universidades brasileiras. E agora, quem
tem a força?
Infelizmente,
quem tem a força é a direita. E a ditadura (opa, perdão pelo exagero nesta
folha) se instaura no país, durando quase vinte e cinco anos.
...
Sete de
setembro de 1972. O adolescente Edson acompanha, atentamente, a parada militar
em comemoração ao sesquicentenário da independência brasileira, ostentando um
cartaz, feito à mão, que apresenta apenas uma simples interrogação - nada mais,
nada menos.
No entanto,
isso é o bastante para tornar clara a sua opção: dentre as alternativas
oferecidas, opta pela segunda delas e deixa o país, passando, desde então, a
ser um exilado em Montevidéu.
...
Quinze de
novembro de 1982. Mário não desgruda os ouvidos das conversas dos mais velhos.
Quer descobrir em quem eles vão votar. Afinal, apesar de a censura ter impedido
a exibição de "Pra Frente Brasil", o país vive um clima de abertura
política; tanto é verdade que hoje é dia de eleições para governador (quem poderia
imaginar isso anos atrás?)! Uma vitória daqueles que tanto lutaram - e Mário
pode se considerar um deles.
Percebe,
então, que as bombas em bancas de jornal não foram à toa. Sua crença na volta
da democracia está forte; suas fichas, depositadas no Brizola. Será que agora
vai? O voto para presidente vai voltar a ser direto?
Não foi; as
consequentes Diretas Já foram um sucesso de um fracasso global.
...
Dezesseis de agosto
de 1992. Pedro e sua turma se divertem, vestidos de preto e com os rostos
pintados da mesma cor. O sinal de luto é contra a corrupção: neste domingo
negro, o tiro de Collor saiu, definitivamente, pela culatra.
O grito de
guerra é entoado por todos: "ai, ai, ai, ai; se empurrar, o Collor
cai".
A juventude
não aguenta mais; são muitas as denúncias de corrupção. São muitos os pais que
perderam seus ativos financeiros, o dinheiro depositado em bancos foi
confiscado, passaram de ricos a pobres da noite para o dia. A culpa é de quem?
Ora, só pode ser de quem decretou o confisco. Fora, Collor!
Um mês e treze
dias depois, eLLe caiu (infelizmente, em 2007, retornou à vida política, mas
isso é outra história. Ou não).
...
Cinco de
outubro de 2002. A
Constituição Federal está perto da sua maioridade, e a expectativa é grande
para as eleições: afinal, pela primeira vez ele tem grande chance de ser
escolhido Presidente da República.
Manifestações
desse ímpeto são proibidas; a lei seca está em vigor, mas sempre há um jeitinho
(ainda mais para aqueles a quem é vedado o direito de beber por natureza - ou
melhor, pela faixa etária).
Felipe e seus
amigos distribuem panfletos, bottoms, ocupam esquinas, fazem bandeiradas,
apitaços, compram os cds com os jingles da campanha... Engajam-se, enfim.
E,
surpreendentemente, dá certo. Digo...
...
Vinte de
janeiro de 2012. Raul está sentado na sua cadeira, pensando. Decide agir.
Afinal, quem o governo dos Estados Unidos (porcos imperialistas!) pensa que é
para barrar seu acesso aos arquivos na internet? Ele nunca se sentiu tão
afrontado na vida inteira, afinal, foi um direito conquistado a duras penas.
Abre o seu
computador de última geração, conecta-se no Facebook e faz um longo texto, de
quatro parágrafos, criticando os métodos empregados pelos Estados Unidos
(porcos imperialistas!) na sua política com os demais países, bem como de
direitos autorais. Entende que pode - e deve - baixar e acessar o que bem
entender, independente do que os Estados Unidos (porcos imperialistas!) pensam.
Apesar de
demorar muito tempo redigindo o texto (mais de cinco minutos, olha só!), fica
feliz com o resultado final. Publica no seu mural e, satisfeito, vê os
comentários dos seus amigos - virtuais - apoiando e concordando com as suas
ideias.
Enquanto sua postagem
é curtida, em pouco menos de cinco minutos, 1079 vezes e compartilhada outras
357, chega mais um convite de evento.
Ah, não! Mais
uma marcha contra a corrupção e pelos direitos básicos da população? Esse povo,
definitivamente, não tem mais nada pra fazer.