Continuous, entire, universal, long lasting.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Quarenta e dois


- Diacho, travou de novo.
- Que foi, Zé?
- O bicho aqui.
- Que tem ele?
- Tá dizendo que não vai fazer o que eu tô pedindo.
- Oxe! Por quê?
- Parece que "a pergunta, se respondida, trará consequências irremediáveis daqui a 38784,5 milhões de anos".
- Hein?
- É o que tá escrito aqui, na tela. Olha.
- Valha, é mesmo. E agora?
- Hein?
- E agora?
- Agora não, cara. Só daqui a 38784,5 milhões de anos.
- Não, Zé. E agora, vai fazer o quê?
- Acho que mudar as palavras... Vai que dá certo, né?
- Boa; vai, muda aí.
- "A ordem dos fatores não altera o produto. A pergunta permanecerá sem resposta para o bem da humanidade".
- Eita, Zé. Tá querendo acabar com o mundo, é?
- Que acabar o mundo o quê!
- Então por que ele disse isso?
- E eu lá sei?
- E quem é que sabe?
- É capaz do chefe saber. Ou o pessoal da informática.
- Mas o pessoal da informática é a gente agora.
- Hmm... Só o chefe, então. Peraí, já sei! Qual aquele site que diz tudo?
- Como assim?
- Aquele de pesquisa!
- O gugol?
- É, ele mesmo. Vou entrar e... "Acesso bloqueado para pesquisas nocivas à sociedade". Ah, quer saber?
- Hm?
- Vou desligar.
- É, desliga. Desde que esse tal de Manteiga Voadora foi feito que a gente não consegue fazer mais nada.
- É verdade. E sabe uma coisa dele que eu nunca entendi?
- O quê?
- O que tem a ver esse cisne preto no canto da tela.
- Acho que isso nem o chefe sabe.
Click.
- Engraçado... Tudo que eu queria era saber se espresso se escreve com S ou com X.
- Pô, Zé!
- Que foi?
- Da próxima vez, pede um cafezinho.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O teu e o meu


Sob o alvo céu duma cálida noite
                               [Encontrei-te
E, atentamente,
Qual um Hercules Poirot
                               [Acompanhei-te
Teus passos, teu sorriso
                               [Vislumbrei-te
Divisando, ao longe
                               [Encontrei-te.

E, encontrando-te,
Acabei por perder-me.

Perdi-me
                               [No teu suave andar
                               [Ao cruzar com teu olhar
Petrifiquei-me
                               [No vale das tuas curvas
Escalei-me
                               [E, à minha Afrodite-musa
Inclinei-me.
E perdi-me.

Deste sentimento, repentino,
Que fez nascer o ti em mim
                               [E o mim em ti
E, num só, dois corpos amalgamou
Não há como fugir:
                               [Isto é o amor.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Feicibuquianas (parte I)


Não sabia qual era a vez que aquilo acontecia a Bel, mas, diante do seu apelido – Camaleão –, tinha certeza absoluta de que estava bem longe de ser a primeira. Na verdade, sempre foi assim, desde a infância: novo grupo, novo personagem.
Já se havia mostrado comediante, introspectivo, tímido, extrovertido, rico, pobre, inteligente, abobalhado; um cara de muitos amigos, com cara de poucos amigos, ligado na família, dependente da namorada; alguém que sabia enfrentar as adversidades da vida, alguém que baixava a cabeça para elas; bem-humorado, mal-humorado, triste, sisudo...
Acima de tudo, o principal é que sempre fizera todos acreditarem que ele realmente era daquele jeito. E, no final, isso acabou se transformando no seu maior problema. Afinal, a partir do momento em que ele passou a se incluir naquele grupo e acreditar, ele também, que poderia ser todos aqueles caracteres, não soube mais se definir. É por isso que, até hoje, seu “quem sou eu” permanece sem resposta.
E, quando alguém tenta preenchê-lo, acaba caindo em contradição com quem já o tentara anteriormente: as máscaras estão lá, superpostas, amalgamadas, dificilmente separáveis. Ele sabe que o único que pode fazê-lo um dia é ele mesmo, mas teme que, no final, só reste um rosto desfigurado, retalhado, indefinível. Se isso acontecer, como se apresentará aos outros?