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quinta-feira, 8 de março de 2012

FIFA, vai ter bolo!


Vamos falar de metáforas? Tá bom, vamos começar com algumas hipóteses.
Suponha que, na sua casa, você e sua família estejam precisando de diversas melhorias - estruturais, financeiras, profissionais, sejam quais forem.
Suponha que vocês necessitam dessas melhorias há muito tempo.
Suponha que seus pais digam, diariamente, não possuir condições - sejam financeiras, sejam de qualquer outra natureza - de realizá-las prontamente e coloquem a culpa na crise (fica a seu critério escolher qual delas).
Suponha, agora, que um amigo dos seus pais, por qualquer motivo, peça para que vocês cuidem do seu bichinho de estimação.
Suponha, então, que, milagrosamente, seus pais decidam promover todas as melhorias necessárias para receber bem o ilustre hóspede.
Agora, me responda: como você se sentiria? Conseguiu identificar sobre o que estou falando?
Bem, amigos, estou falando mesmo da Copa do Mundo.
A lista de necessidades de Fortaleza (para ficar apenas no local) é extensa: vai desde segurança e educação a transportes (metrô?) e saúde. Nos últimos anos, parece que a cidade parou no tempo, e o caos só tem aumentado. Não, isso infelizmente não é um "privilégio" apenas fortalezense - falo também do estado, da região e do País.
Aí, de repente, BUM! Agora é a hora e a vez do Brasil! Copa 2014, Rio 2016... Viva, agora essas obras saem!
Opa, peraí, calma lá! Quer dizer que, só porque vamos organizar dois eventos esportivos, devemos nos maquiar para isso? A população deste "País tropical, bonito por natureza" sempre ficou em segundo plano, e seus anseios e carências nunca foram atendidos. Agora, devemos nos adaptar às condições impostas por organizações PRIVADAS internacionais e fazer o possível e o impossível para atender às suas exigências?
Eu não estou dizendo que as intervenções e obras não são necessárias; bem ao contrário, na verdade. Mas, a que preço? Ouvir representantes da FIFA falarem mal do País, impondo suas regras de comercialização de ingressos e bebidas alcóolicas em estádios (em flagrante desacordo com as leis brasileiras!), criticando todo um Poder (tá, é o Legislativo, eu sei... Mas quem esses gringos pensam que são para interferirem assim no Poder de um Estado?), é algo ultrajante. Mais ainda é ver a cachoeira de recursos escorrendo das obras públicas, dentre eles, estádios privados - para onde, nós bem sabemos.
Não se iluda: parafraseando uma expressão antiga, essas obras são apenas "para a FIFA ver". Alguém tem dúvida de que, depois da Copa do Mundo, o grosso da população vai ficar a ver navios? As melhorias não serão como tentam pintar por aí, pode ter certeza. Basta você se lembrar de que a crise na Grécia se agravou bastante por causa dos gastos públicos com as obras para as Olimpíadas de 2006.
Bem, amigos, tinha muitas outras coisas para escrever, mas não quero cair no clichê de falar que futebol é apenas esporte e, como tal, deveria ser tratado com menos seriedade e mais diversão; não quero rememorar que devemos lutar, sim, por melhorias na saúde, na educação, no transporte público, na igualdade social, no acesso a serviços básicos, na segurança etc., mas melhorias para que nós, o povo, desfrutemos, e não os demais; e não quero, por fim, relembrar a política do pão e do circo, que, nos dias de hoje, pelo visto, foi transformada única e simplesmente na política do circo, já que o pão que o povo come é só aquele que o diabo amassou. Há muito tempo.