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sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Tô cansado

(Olhos do lixo, Descartes Gadelha)

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"Eu presto atenção no que eles dizem, mas eles não dizem nada
Fidel e Pinochet tiram sarro de você que não faz nada
E eu começo a achar normal que algum boçal atire bombas na embaixada
Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer tudo que eu vi
Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer...
Toda forma de poder é uma forma de morrer por nada.
Toda forma de conduta se trasforma numa luta armada.
A história se repete mas a força deixa a história
mal contada...
E o fascismo é fascinante deixa a gente ignorante e fascinada
É tão fácil ir adiante e se esquecer que a coisa toda tá errada
Eu presto atenção no que eles dizem mas eles não dizem nada"
(Engenheiros do Hawaii – Toda forma de poder)

Tô cansado. Cansado dessa mesquinhez, cansado dessa briga do poder pelo mero poder, cansado dessa mesmice que faz todos os brasileiros pensarem que “político é tudo igual”.
Cansado de ver quem deveria nos proteger preocupado apenas com a “ordem” – que ordem seria essa? A que vivemos? Não seria uma desordem? A injustiça nunca vai gerar uma ordem, a não ser que a ordem seja a manutenção do status quo (e, sejamos sinceros, ô expressãozinha do meu abuso). Acho, na verdade, que a ordem é apenas a de “descer o cacete antes e não perguntar nada depois”". Afinal, diálogo não parece ser o forte desses ordeiros/ordenadores (que sonham ser ordenhadores de um rebanho pacífico e acomodado).
Tô cansado de ouvir discursos-monólogos em que é reforçada a importância dos diálogos, mas, na prática, esses são paulatina e paradoxalmente deixados de lado. Os diálogos servem apenas para os discursos, não é algo estranho?
Tô cansado da arrogância dos agentes públicos, que tratam a coisa pública como se privada fosse. E, para além da coisa pública, aquilo que é a mais pura essência do que é público: o povo.
Cansado de ver esse mesmo povo brigando como se numa intifada estivesse, armado de paus e pedras contra um adversário (que, olha só!, faz parte do mesmo povo) bem mais forte, armado até os dentes como se numa guerra estivesse. Cansado de ver as reações desproporcionais, injustificadas, desarrazoadas e humilhantes sem qualquer apuração; e, quando apuradas, sem qualquer resultado prático.
Cansado, então, de ver todos os dias uma disputa de Davi contra Golias.
Se estou cansado, isso, no entanto, é o que me dá forças para continuar. Afinal, lembro que, felizmente, na lendária história, Davi foi o vencedor.