Continuous, entire, universal, long lasting.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Não puxe conversa de elevador comigo

(Vando Figueiredo, Michelangelo)
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 Não tenho paciência para pessoas monotemáticas. Para mim, monotema = monotonia. O bom da vida é o múltiplo, o vasto, beirando o infinito!
Gosto de ir, numa conversa, do futebol à literatura; de uma cidade bonita a bons restaurantes; daquela menina à dificuldade de achar um marceneiro que preste. Isso porque, quando bato um papo com alguém, minha cabeça voa a mil (o segredo está em escutar mais e falar menos), de modo que é bastante provável que um dia aconteça esse diálogo:
- ... daí o drible que ele deu no zagueiro foi desconcertante!
- Mudando de assunto - tô pra ver expressão mais frequente quando estou numa conversa (e ela só não acontece mais, porque eu mesmo me fiscalizo para evitá-la às vezes) -, quando você for à Munique, não deixe de visitar Dachau.
Calma, eu me explico. Acho que não é problema de coerência nem de coesão... É que, quando você fala sobre o "drible desconcertante do zagueiro", imediatamente me lembro do jogo na noite anterior, do bar em que assisti ao jogo, da cerveja gelada desse bar, de um dos melhores lugares em que já tomei cerveja na vida (Hofbrauhaus-Munique), dos parques em Munique, da velhinha em que me hospedei, do diálogo que entabulamos no seu apartamento, da sua revolta quando eu disse que queria visitar Dachau e, finalmente, da impressão que me causou esse campo de concentração. Viu, é fácil! Isso tudo acontece em menos de um segundo, garanto.
- Mostra o nível hard de estupidez que a humanidade pode alcançar.
Tenha em mente: a continuidade do diálogo depende, única e exclusivamente, da resposta que você me der.
- Tá, mas eu tô falando do jogo, cara!
Mudando de assunto, vai um cafezinho aí?

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Por favor, desliguem seus celulares

(Vlamir de Sousa)
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 Vou confessar um pecado meu: nunca fui aficionado por tecnologia. Nos tempos atuais, isso talvez seja o maior erro que uma pessoa pode vir a cometer. Acho, de verdade, que os homens criam necessidades que, de um dia para o outro, se convertem em necessidades básicas de primeira ordem, como comer e dormir. Nada mais sintomático do que o fato de os smartphones terem se transformado no parâmetro para aferição da personalidade de alguém, de sua modernidade etc. e tal.
Do meu círculo de amigos, fui dos últimos a comprar um desses aparelhinhos que pretendem fazer de tudo - mas que, amanhã, já estarão obsoletos demais para isso. Sim, comprei um smartphone e, depois, caindo no abismo em que me havia metido, tive que baixar os aplicativos da moda, dentre os quais o maior substituto, na atualidade, de rodas de conversa: o whatsapp.
Seria apenas uma plataforma para trocar rápidas mensagens com amigos, combinar eventos, discutir coisas breves. Problema é que as pessoas se esqueceram de que o telefone serve para se comunicar também oralmente, e passaram a cobrar apenas que as respostas às mensagens fossem dadas instantaneamente. Isso pra mim foi o pesadelo.
Não consigo me adaptar tão facilmente a essas tecnologias tão voláteis. Não sei me comportar como todos o fazem, não sei ficar na mesa do bar, na roda de conversa, no aconchego do lar, no cinema, no estádio de futebol... mexendo os polegares pra um lado e pro outro freneticamente, subindo e descendo a tela, encaminhando mensagens, vídeos e imagens enquanto na minha companhia uma bola rola, um filme passa numa tela bem maior, vozes comigo dialogam. Não sei se é questão de educação (ou da falta dela), mas não consigo estar diante de uma pessoa, conversando diretamente com ela, mas olhando fixamente para uma telinha minúscula entre as minhas mãos.
Fiquei ainda mais assustado quando vi que as pessoas estavam começando a criticar um amigo, considerando-o distante porque ele não conversava mais tanto no whatsapp. Não importa se ele estava curtindo sua família, se estava estudando, se estava com outros amigos, se estava curtindo a vida... A falha dele era que não estava mandando mensagens em um grupo virtual. Alguém se identificou?
Decidi, então, desligar meu 3g e meu wifi.
Saiam às ruas. Quem sabe, assim, vocês me encontrarão. E, se não encontrarem, não se preocupem: há uma cidade e uma vida ao redor de vocês.