Houve um tempo em que a mão inglesa, anomalia hoje em dia, era o usual. E, por mão inglesa, creio não ser necessário reforçar que falo da via de trânsito, e não do mero anglicismo - hand, sim, bastante conhecida e amplamente utilizada neste mundo globalizado.
Esse tempo era o da Idade Média, com seus feudos, trevas e cavaleiros (da Távola Redonda ou não), uma época em que ser canhoto era coisa extremamente pecaminosa. Aliás, gerações não tão antigas costumam dizer que, não faz muito tempo, as pessoas ainda acreditavam nisso. Isso implica dizer que recém saímos do Medievo?
Pois bem, por ser coisa do Cramunhão o simples fato de ser sestro, os cavaleiros se viam obrigados a segurar suas lanças destramente. Assim, nos combates, em que um partia de encontro ao outro, seria mais fácil atingir o adversário frontalmente se ele se encontrasse à sua direita.
Ocorre que, avançando um pouco no tempo, devemos nos lembrar de um certo baixinho. Não, não falo do Romário, o maior centroavante que já vi atuar dentro da grande área; falo de um proveniente de Córsega, fonte-mor de inspiração para muitos loucos no mundo inteiro. Um baixinho com mania de grandeza - como tantos outros. Um baixinho à parte. Napoleão Bonaparte.
Esse pequeno cidadão conquistou quase toda a Europa, comandando, com mão forte (e esquerda!), um grandioso exército. Sim, isso mesmo: fontes fidedignas (principalmente o Google) comprovam que Napoleão era canhoto. Dessa forma, empunhando suas lanças e espadas do lado do coração, o imperador inverteu a via de circulação em todos os lugares que conquistou.
Mas (ah, que seria das histórias se não houvesse a conjunção adversativa!) eu já disse que Bonaparte não conseguiu conquistar a integralidade do mundo "civilizado" - alguém pode me esclarecer que conceito de civilização é esse, já que os Estados viviam guerreando por nada? E, forte e resistente, voilà!, a Inglaterra.
Orgulhosa de si, então, manteve, além do seu sistema de pesos e medidas, a sua via de circulação - a mão inglesa.
Sinistro!
(Texto publicado na coluna "É o seguinte", do site Circunlóquio - http://www.circunloquio.com.br)
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