Desde a infância, Santiago era um viciado em
colecionar coisas. Tampinhas, álbum de figurinhas, bonecos... Teve uma fase que
até namoradas Santiago colecionou! Mas, pra satisfação de sua mãe (e tristeza
de Santiago), essa fase não durou tanto assim. As pessoas achavam que essa
história de colecionar logo passaria, mas o que aconteceu foi exatamente o
contrário: as coleções foram ficando cada vez mais sérias.
Até que, ao chegar à maturidade, Santiago passou a
colecionar livros. E a dita coleção passou a ser séria. Catalogada, organizada
em estantes por categorias, as categorias por subcategorias, as subcategorias
por autores em ordem alfabética. E tornou-se permanente.
Santiago nunca mais se desfez da sua coleção de
livros - ao contrário, encarregou-se de aumentá-la diariamente, indo todo santo
dia à livraria que havia perto de sua casa. E não fez tanta diferença assim
quando a livraria fechou: Santiago achou outra para substitui-la. O importante
mesmo era comprar mais e mais livros.
Minto: na verdade, o importante não era só
comprá-los, pois Santiago impunha-se como obrigação ler todos os livros que
adquiria. Não queria só ter, queria ler. Então, o que parecia ser algo saudável
(afinal, ler nunca é demais), passou a ser obsessão. Santiago obrigou-se a todo
dia comprar novos livros, só sossegando quando os terminava. A vida resumiu-se
a adquirir os livros e lê-los, em um círculo vicioso que inibiu a sua vida
social e profissional.
Acontece que aquilo que para os outros era
obsessão, para Santiago era uma simples rotina. Lia desde Platão e Aristóteles
a Danielle Steel, passando por Machado de Assis, Shakespeare, Alexandre Dumas
e, mesmo, Paulo Coelho. Todo dia, o dia todo, comprava um livro e lia algo
novo. Montou uma biblioteca exageradamente grande, de fazer inveja mesmo à de
Alexandria, organizadamente catalogada.
Até o dia em que sua coleção se completou.
Isso mesmo, não tinha nenhum livro que Santiago
não tivesse já comprado. Assim, não lhe restou outra saída: foi encontrado três
dias depois, pendurado no último degrau da escada de sua biblioteca. Em uma
folha, no bolso de seu casaco, havia apenas uma palavra: fim.
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