Ao Rafael do futuro.
Caro eu,
Esse silêncio
me angustia.
Há dias,
amigos, familiares, colegas e conhecido me têm perguntado se não vou escrever
nada sobre essa mobilização popular recente. Não tinha pensado em falar nada,
pra falar a verdade, com medo de repetir o que já tem sido exaustivamente dito
por aí, mas...
Mas esse
silêncio me angustia.
Lembro-me de
um Rafael do passado (mais de uma década atrás), que formou a base e os
princípios do Rafael do presente, participando, com mais alguns poucos amigos e
mais outros gatos pingados, de passeatas e manifestações diversas. Contra ALCA,
FMI, corrupção... Éramos poucos, não tínhamos tanta atenção assim, mas
lutávamos. Lutávamos pelos ideais em que acreditávamos e, principalmente, por
aquilo que pensávamos que seria um mundo melhor.
Pouca gente,
ainda que concordasse conosco, nos acompanhava - talvez por comodismo, talvez
por falta de informação, talvez mesmo por medo da repressão. Mas o importante
era que fazíamos a nossa parte.
O tempo
passou e a mobilização cresceu. Partiu para outro campo (de batalha não, pois
você, Rafael do passado, presente e - espero - futuro, sempre foi partidário da
paz e das discussões pelos argumentos), mais especificamente para as urnas. Era
um movimento lindo de se ver, jovens engajados nas eleições, discussões
políticas, propostas na ponta da língua de todos...
Aí veio não o
arrependimento, afinal, tudo na vida é aprendizagem; mas sim a decepção. A
mudança não aconteceu como deveria, a prática se distanciou da teoria, e o
pensamento "será que realmente não tem jeito?" começou a povoar a cabeça
desse pobre Rafael.
Agravado pelo
desconhecimento de mobilizações populares que porventura ocorressem, passei a
refletir. Indignado, inquieto; mas calado.
Mas, você
sabe, esse silêncio me angustia.
Eis que,
quando o povo mais parecia assim, sonolento, como um rebanho conduzido para o
abate, chegou a hora. Não sei como o mundo está agora, no futuro, mas o
importante é que "o gigante acordou" (para ficar numa frase bastante
atual): gritando, se manifestando, se mobilizando. Tudo assim, pacificamente,
demonstrando a indignação da juventude e da sociedade como um todo com tudo que
vem destruindo o país.
E o que tem
não haver uma bandeira específica? As bandeiras são várias, as insatisfações
idem, e isso não deve enfraquecer, nunca, qualquer mobilização que seja. É
melhor manter o povo unido, afinal, a força é bem maior. Clamando por mudanças,
exigindo, gritando.
Por isso,
Rafael, você não podia ficar calado. Afinal, esse silêncio sempre o angustiou.
Espero que
você nunca se esqueça disso no futuro.
Assinado,
Rafael de 19/06/2013.
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