(Olhos do lixo, Descartes Gadelha)
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"Eu
presto atenção no que eles dizem, mas eles não dizem nada
Fidel
e Pinochet tiram sarro de você que não faz nada
E
eu começo a achar normal que algum boçal atire bombas na embaixada
Se
tudo passa, talvez você passe por aqui
E
me faça esquecer tudo que eu vi
Se
tudo passa, talvez você passe por aqui
E
me faça esquecer...
Toda
forma de poder é uma forma de morrer por nada.
Toda
forma de conduta se trasforma numa luta armada.
A
história se repete mas a força deixa a história
mal
contada...
E
o fascismo é fascinante deixa a gente ignorante e fascinada
É
tão fácil ir adiante e se esquecer que a coisa toda tá errada
Eu
presto atenção no que eles dizem mas eles não dizem nada"
(Engenheiros do Hawaii – Toda forma de poder)
Tô cansado. Cansado dessa mesquinhez, cansado dessa briga do poder
pelo mero poder, cansado dessa mesmice que faz todos os brasileiros
pensarem que “político é tudo igual”.
Cansado de ver quem deveria nos proteger preocupado apenas com a
“ordem” – que ordem seria essa? A que vivemos? Não seria uma
desordem? A injustiça nunca vai gerar uma ordem, a não ser que a
ordem seja a manutenção do status quo (e, sejamos sinceros,
ô expressãozinha do meu abuso). Acho, na verdade, que a ordem é
apenas a de “descer o cacete antes e não perguntar nada depois”".
Afinal, diálogo não parece ser o forte desses ordeiros/ordenadores
(que sonham ser ordenhadores de um rebanho pacífico e acomodado).
Tô cansado de ouvir discursos-monólogos em que é reforçada a
importância dos diálogos, mas, na prática, esses são paulatina e
paradoxalmente deixados de lado. Os diálogos servem apenas para os
discursos, não é algo estranho?
Tô cansado da arrogância dos agentes públicos, que tratam a coisa
pública como se privada fosse. E, para além da coisa pública,
aquilo que é a mais pura essência do que é público: o povo.
Cansado de ver esse mesmo povo brigando como se numa intifada
estivesse, armado de paus e pedras contra um adversário (que, olha
só!, faz parte do mesmo povo) bem mais forte, armado até os dentes
como se numa guerra estivesse. Cansado de ver as reações
desproporcionais, injustificadas, desarrazoadas e humilhantes sem
qualquer apuração; e, quando apuradas, sem qualquer resultado
prático.
Cansado, então, de ver todos os dias uma disputa de Davi contra
Golias.
Se estou cansado, isso, no entanto, é o que me dá forças para
continuar. Afinal, lembro que, felizmente, na lendária história,
Davi foi o vencedor.
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