(Linha de frente, Descartes Gadelha) |
Sempre que escuto pessoas se lamentando a respeito das precárias
condições da nossa polícia, não tem como não lembrar a história
de Pebinha. Pebinha é um cara legal, bastante amigo, sempre foi
muito família, com um senso de responsabilidade para com os seus et
cetera e tal. Um cara normal, diriam alguns. Apenas um pouco
distraído, ressaltariam outros.
Acontece que Pebinha estudou e, para orgulho de toda a família (e um
pouco de apreensão da mãe), acabou aprovado num concurso para a
polícia – sim, essa entidade em sentido amplo, pouco importando,
para essa história, se se trata de estadual ou federal, militar ou
civil. O importante é que Pebinha, agora, seria responsável por
parte da segurança da população.
Passou por todos os trâmites burrocráticos e entrou em exercício.
Lotado em uma lotada delegacia, revezava-se em plantões com seus
colegas e, em determinada ocasião em que se encontrava de folga,
veio me contar a história de quando o seu preso de confiança…
— Peraí, Pebinha… Quem?
O preso de confiança, segundo Pebinha, seria aquele a quem você
confia as chaves da cela, o pagamento de contas, a compra de pizzas
nas redondezas… Só não tive coragem de perguntar se também seria
possível confiar a mulher.
De toda forma, o preso de confiança trouxe ao Pebinha a informação
de que rumores de um motim começavam a se confirmar: detentos da
cela um haviam começado a empilhar colchões; os da cela dois não
mais gritavam, apenas cochichavam entre si; e os da três repetiam
incessantemente, aos berros (mais do que o normal, até), suas
exigências.
Resoluto, Pebinha rapidamente tomou uma atitude. Correu a buscar seu
instrumento de trabalho na gaveta e, tentando demonstrar haver sido
feito, como poucos, para aquele ofício, dirigiu-se ao corredor dos
revoltados, gritando energicamente:
— Ninguém se mexe! Enquanto eu estiver por aqui, nenhuma baderna
vai acontecer!
Ao mesmo tempo em que vociferava contra os presos, suas mãos suavam
ao empunhar um revólver que sequer sabia como utilizar. Maldita hora
em que conseguira, com um amigo médico, o atestado para ser liberado
do curso de tiro!
A situação, felizmente, foi satisfatoriamente resolvida sem que
tenha sido necessário disparar nenhum tiro. Até porque, desatento,
Pebinha não vira como o tambor da arma se encontrava: vazio.
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