Garimpando, meus pais acharam esse texto meu, escrito
no ano de 2000, para participar de um concurso literário. Sem qualquer juízo de
valor, publico-o aqui, para leitura de todos. Não sei se vocês gostarão, mas eu
me diverti bastante resgatando essa parte da minha história.
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Estamos em dezembro de 2000. Eu, minha esposa Lúcia e
meus cinco filhos (Eduardo, Elton, Edil, Emma e Emily) passamos por um ano um
pouco conturbado. Não em questões familiares (relacionamo-nos perfeitamente
bem), mas economicamente falando.
Sou vendedor. Lúcia está desempregada no momento.
Então, eu sou praticamente o único a colocar dinheiro dentro de casa.
No mês de dezembro de 1999, recebi meu décimo terceiro
salário, que seria para pagar algumas dívidas, pequenas, mas que incomodavam.
Seria, mas não foi devido à sede de consumo que todos dessa sociedade
consumista em qual vivemos têm.
Não entendo o porquê de algumas datas e tradições. Por
exemplo: para que o dia das crianças, dia das mães, dia dos pais? Pior: para
que dar presentes em todas essas datas? É um dos problemas da sociedade
capitalista, sempre gastando mais do que se é permitido. Em pouco tempo, se não
cuidarmos, não existirão dias em que não se presenteie alguém.
Pois meus filhos quiseram, no ano passado, presentes
de Natal. Todos eles inocentes, imaginando Papai Noel trazendo tudo o que
desejavam. Os pais devem me compreender, saber que partir o coração de uma
criança, ainda mais de seu filho, tirar-lhe o sonho do “Bom Velhinho”, é senão
crueldade.
Dei aos meus filhos os presentes que queriam. E fiz à
minha mulher uma surpresa, já que ela esperava ganhar nenhum presente. Na
“caridade”, acabei com todo o dinheiro que me seria útil.
Mas foi por uma boa causa, pois a expressão de
felicidade de cada um deles ficou na memória.
Infelizmente, essa expressão não se repetiu. Ao longo
do ano, não consegui pagar as dívidas antigas e acumulei novas e maiores.
Agora, em dezembro de 2000, meus filhos todos já sabem
da inexistência de Papai Noel. Estou prestes a receber meu décimo terceiro
salário, e me fiz uma promessa: não comprarei presentes. Guardarei todo o
dinheiro para saldar as dívidas.
Mas não consigo cumprir tal promessa. Quando vejo os
rostos dos meus filhos, o espírito natalino instala-se em mim, lembro-me dos
sorrisos deles ao receberem os presentes no ano anterior, a imagem de Jesus me
vem à mente, e digo para mim:
- Ah! droga de sociedade! Minha família não tem culpa.
Só mais esse ano...
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