(Vlamir de Sousa) |
Vou confessar um pecado meu: nunca fui aficionado por tecnologia. Nos
tempos atuais, isso talvez seja o maior erro que uma pessoa pode vir
a cometer. Acho, de verdade, que os homens criam necessidades que, de
um dia para o outro, se convertem em necessidades básicas de
primeira ordem, como comer e dormir. Nada mais sintomático do que o
fato de os smartphones terem se transformado no parâmetro para
aferição da personalidade de alguém, de sua modernidade etc. e
tal.
Do meu círculo de amigos, fui dos últimos a comprar um desses
aparelhinhos que pretendem fazer de tudo - mas que, amanhã, já
estarão obsoletos demais para isso. Sim, comprei um smartphone e,
depois, caindo no abismo em que me havia metido, tive que baixar os
aplicativos da moda, dentre os quais o maior substituto, na
atualidade, de rodas de conversa: o whatsapp.
Seria apenas uma plataforma para trocar rápidas mensagens com
amigos, combinar eventos, discutir coisas breves. Problema é que as
pessoas se esqueceram de que o telefone serve para se comunicar
também oralmente, e passaram a cobrar apenas que as respostas às
mensagens fossem dadas instantaneamente. Isso pra mim foi o
pesadelo.
Não consigo me adaptar tão facilmente a essas tecnologias tão
voláteis. Não sei me comportar como todos o fazem, não sei ficar
na mesa do bar, na roda de conversa, no aconchego do lar, no cinema,
no estádio de futebol... mexendo os polegares pra um lado e pro
outro freneticamente, subindo e descendo a tela, encaminhando
mensagens, vídeos e imagens enquanto na minha companhia uma bola
rola, um filme passa numa tela bem maior, vozes comigo dialogam. Não
sei se é questão de educação (ou da falta dela), mas não consigo
estar diante de uma pessoa, conversando diretamente com ela, mas
olhando fixamente para uma telinha minúscula entre as minhas mãos.
Fiquei ainda mais assustado quando vi que as pessoas estavam
começando a criticar um amigo, considerando-o distante porque ele
não conversava mais tanto no whatsapp. Não importa se ele estava
curtindo sua família, se estava estudando, se estava com outros
amigos, se estava curtindo a vida... A falha dele era que não estava
mandando mensagens em um grupo virtual. Alguém se identificou?
Decidi, então, desligar meu 3g e meu wifi.
Saiam às ruas. Quem sabe, assim, vocês me encontrarão. E, se não
encontrarem, não se preocupem: há uma cidade e uma vida ao redor de
vocês.
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