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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Capítulo II

Era uma vez a típica família de classe média brasileira. Havia sofrido as agruras e os apertos dos noventa: inflação nas nuvens, planos Bresser, Verão, Collor; impeachment do Marajá (os caras-pintadas!); crise econômica com a desvalorização da moeda ao final da década, privatizações (telecomunicações e energia - contas na estratosfera); discussões a respeito da globalização (quando, na verdade, o que importava e atemorizava mesmo era os tão comentados planos de demissão voluntária).

Lograra êxito, todavia; passara sem grandes máculas por todos esses eventos. Hoje em dia, colhia os frutos do bom momento econômico nacional.

- Já não era sem tempo! - exclamava diariamente no encontro tácito do elevador Seu Barbosa, o vizinho de baixo. - Viu a quanto o dólar fechou ontem? Glória a Deus! Com essa cotação, finalmente vou poder levar a Glorinha para conhecer os Esteites... Quem diria! Um sonho!

E, na pontualidade brasileira de quem acorda religiosamente todo dia cinco minutos atrasado, Seu Barbosa desembarcava no térreo e punha-se imediatamente a correr, com o nó da gravata ainda desfeito, sem ao menos desejar bom dia aos demais.

Não que eles se importassem; na verdade, sempre lhes parecia que a breve conversa de elevador era apenas o dial do som do carro sintonizado segundos antes de chegarem ao subsolo. Tanto é verdade que, ao descer do vizinho, automaticamente se iniciavam as disputas acirradas sobre quem escolheria a trilha sonora da manhã.

- Como hoje é um dia especial para ele, quem decide sobre a música é o Filho.

Assim foi o início do primeiro dia de trabalho de Filho.

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