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segunda-feira, 30 de maio de 2011

Capítulo IV

- Vamos nos mudar!

Foi com essa frase, dita a plenos pulmões, parecendo que havia ganhado na Mega-Sena (para o Filho, na verdade, que à essa época não entendia muito desses jogos de azar permitidos, parecia algo ainda melhor: que o Brasil havia ganhado a Copa do Mundo mais uma vez!), que o Pai entrou em casa, uma bela tarde de outubro, carregando uma papelada de todas as cores.

Filho não foi capaz de compreender toda a dimensão por trás de uma frase tão simples. Achou que tudo continuaria da mesma forma. Ou melhor, não achou nada; nunca parou para pensar no assunto. Afinal, outras preocupações eram bem mais prementes em sua vida: a tarefa de casa, o futebol no final de tarde e os desenhos já o ocupavam bastante.

Desse modo, a vida seguiu seu curso normal.

No entanto, logo nos primeiros meses, a impressão inicial de que “é, se mudar é a mesma coisa de permanecer” foi-se dissipando. E o pior: de neutra, a opinião passou a ser negativa. Continuava sem entender as conversas entre os pais, cheias de valores, uns tais de financiamentos e bolões; porém, a linguagem corporal e facial é apreendida desde cedo, e os cenhos franzidos e rugas de preocupações transmitiam a aflição que atormentava seus pais.

Foi criando uma aversão cada vez maior à mudança. E olha que nem reparou no corte do telefone, nos frangos cada vez mais freqüentes e na maior durabilidade das suas roupas! Mas não entendeu quando teve que deixar a escolinha e, sempre que perguntava à Mãe, a resposta era a mesma:

- Mas, Filho, é que vamos nos mudar...

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