Não sabia
qual era a vez que aquilo acontecia a Bel, mas, diante do seu apelido –
Camaleão –, tinha certeza absoluta de que estava bem longe de ser a primeira.
Na verdade, sempre foi assim, desde a infância: novo grupo, novo personagem.
Já se havia
mostrado comediante, introspectivo, tímido, extrovertido, rico, pobre,
inteligente, abobalhado; um cara de muitos amigos, com cara de poucos amigos,
ligado na família, dependente da namorada; alguém que sabia enfrentar as
adversidades da vida, alguém que baixava a cabeça para elas; bem-humorado,
mal-humorado, triste, sisudo...
Acima de
tudo, o principal é que sempre fizera todos acreditarem que ele realmente era
daquele jeito. E, no final, isso acabou se transformando no seu maior problema.
Afinal, a partir do momento em que ele passou a se incluir naquele grupo e
acreditar, ele também, que poderia ser todos aqueles caracteres, não soube mais
se definir. É por isso que, até hoje, seu “quem sou eu” permanece sem resposta.
E, quando
alguém tenta preenchê-lo, acaba caindo em contradição com quem já o tentara
anteriormente: as máscaras estão lá, superpostas, amalgamadas, dificilmente
separáveis. Ele sabe que o único que pode fazê-lo um dia é ele mesmo, mas teme
que, no final, só reste um rosto desfigurado, retalhado, indefinível. Se isso
acontecer, como se apresentará aos outros?
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