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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Margem de erro

(Salve-se quem puder / save yourself if you can, Juliana Caneca)
Noite dessas, rodeado de petiscos e cervejas, encontrei-me com uns amigos. Alguns deles discutiam fervorosamente sobre política, enquanto eu e outros optamos por manter o silêncio. Não sei os motivos destes, mas eu mesmo não suporto mais discussões calorosas sobre quaisquer assuntos que sejam e que não levam a lugar algum, apenas ao desrespeito e à troca de farpas desnecessárias. Quando foi que as pessoas desaprenderam que religião, política, futebol e mulher não se discute?
O álcool começou a fazer efeito, os ânimos se acirraram, quando o onipresente Seu Tobias - que nunca falta a nenhuma de nossas reuniões, sendo o principal abastecedor do grupo - deixou a bandeja de lado e resolveu apaziguar a situação, calando os exaltados:
- Rapaz, me lembro como se fosse amanhã. Essa história de pesquisa eleitoral num tinha tanta coisa, não. Era só assim: 93% votam no Manel das Tauba e 17% votam no Zé das Tapioca. Pronto. Não tinha esse negócio de 34% da classe média vota no candidato A, mas 46% tem ensino universitário, 89% tem veículo, 99% tem smartphone... Então, noves fora, excluído o resto, considerando a margem de erro do IBOPE, do PNAD, do FMI, da ONU, da CBF e da FIFA, o próximo presidente do Brasil tem 50% de chance de ser homem. Ou mulher. Ou não.
O barulho do silêncio ecoou na mesa. No meu âmago, concordei. Aqueles que quiseram discordar, não acharam argumentos.
- E digo mais. Qualquer dia, as pesquisas, de tão restritivas, vão passar a divulgar a opção de uma pessoa apenas. Aí vai sair no jornal assim: Francisco das Dúvidas tem 87% de chance de votar no candidato da oposição; considerando a margem de erro...
Depois dessas palavras, fim de discussão.

Um comentário:

Anônimo disse...

Já notou que todas as vezes que alguém mais velho diz "no meu tempo" descobrimos como a vida se tornou mais complicada, mais insensível e mais sem graça? Saudades de um tempo que eu não vivi...