(Salve-se quem puder / save yourself if you can, Juliana Caneca) |
Noite dessas, rodeado de petiscos e cervejas, encontrei-me com uns
amigos. Alguns deles discutiam fervorosamente sobre política,
enquanto eu e outros optamos por manter o silêncio. Não sei os
motivos destes, mas eu mesmo não suporto mais discussões calorosas
sobre quaisquer assuntos que sejam e que não levam a lugar algum,
apenas ao desrespeito e à troca de farpas desnecessárias. Quando
foi que as pessoas desaprenderam que religião, política, futebol e
mulher não se discute?
O álcool começou a fazer efeito, os ânimos se acirraram, quando o
onipresente Seu Tobias - que nunca falta a nenhuma de nossas
reuniões, sendo o principal abastecedor do grupo - deixou a bandeja
de lado e resolveu apaziguar a situação, calando os exaltados:
- Rapaz, me lembro como se fosse amanhã. Essa história de pesquisa
eleitoral num tinha tanta coisa, não. Era só assim: 93% votam no
Manel das Tauba e 17% votam no Zé das Tapioca. Pronto. Não tinha
esse negócio de 34% da classe média vota no candidato A, mas 46%
tem ensino universitário, 89% tem veículo, 99% tem smartphone...
Então, noves fora, excluído o resto, considerando a margem de erro
do IBOPE, do PNAD, do FMI, da ONU, da CBF e da FIFA, o próximo
presidente do Brasil tem 50% de chance de ser homem. Ou mulher. Ou
não.
O barulho do silêncio ecoou na mesa. No meu âmago, concordei.
Aqueles que quiseram discordar, não acharam argumentos.
- E digo mais. Qualquer dia, as pesquisas, de tão restritivas, vão
passar a divulgar a opção de uma pessoa apenas. Aí vai sair no
jornal assim: Francisco das Dúvidas tem 87% de chance de votar no
candidato da oposição; considerando a margem de erro...
Depois dessas palavras, fim de discussão.
Um comentário:
Já notou que todas as vezes que alguém mais velho diz "no meu tempo" descobrimos como a vida se tornou mais complicada, mais insensível e mais sem graça? Saudades de um tempo que eu não vivi...
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