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sexta-feira, 15 de novembro de 2013

TEXTO ANTIGO - Pais e filhos

Garimpando, meus pais acharam esse texto meu, escrito no ano de 2000, para participar de um concurso literário. Sem qualquer juízo de valor, publico-o aqui, para leitura de todos. Não sei se vocês gostarão, mas eu me diverti bastante resgatando essa parte da minha história.

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Estamos em dezembro de 2000. Eu, minha esposa Lúcia e meus cinco filhos (Eduardo, Elton, Edil, Emma e Emily) passamos por um ano um pouco conturbado. Não em questões familiares (relacionamo-nos perfeitamente bem), mas economicamente falando.
Sou vendedor. Lúcia está desempregada no momento. Então, eu sou praticamente o único a colocar dinheiro dentro de casa.
No mês de dezembro de 1999, recebi meu décimo terceiro salário, que seria para pagar algumas dívidas, pequenas, mas que incomodavam. Seria, mas não foi devido à sede de consumo que todos dessa sociedade consumista em qual vivemos têm.
Não entendo o porquê de algumas datas e tradições. Por exemplo: para que o dia das crianças, dia das mães, dia dos pais? Pior: para que dar presentes em todas essas datas? É um dos problemas da sociedade capitalista, sempre gastando mais do que se é permitido. Em pouco tempo, se não cuidarmos, não existirão dias em que não se presenteie alguém.
Pois meus filhos quiseram, no ano passado, presentes de Natal. Todos eles inocentes, imaginando Papai Noel trazendo tudo o que desejavam. Os pais devem me compreender, saber que partir o coração de uma criança, ainda mais de seu filho, tirar-lhe o sonho do “Bom Velhinho”, é senão crueldade.
Dei aos meus filhos os presentes que queriam. E fiz à minha mulher uma surpresa, já que ela esperava ganhar nenhum presente. Na “caridade”, acabei com todo o dinheiro que me seria útil.
Mas foi por uma boa causa, pois a expressão de felicidade de cada um deles ficou na memória.
Infelizmente, essa expressão não se repetiu. Ao longo do ano, não consegui pagar as dívidas antigas e acumulei novas e maiores.
Agora, em dezembro de 2000, meus filhos todos já sabem da inexistência de Papai Noel. Estou prestes a receber meu décimo terceiro salário, e me fiz uma promessa: não comprarei presentes. Guardarei todo o dinheiro para saldar as dívidas.
Mas não consigo cumprir tal promessa. Quando vejo os rostos dos meus filhos, o espírito natalino instala-se em mim, lembro-me dos sorrisos deles ao receberem os presentes no ano anterior, a imagem de Jesus me vem à mente, e digo para mim:
- Ah! droga de sociedade! Minha família não tem culpa. Só mais esse ano...

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